Vale a pena investir em VoIP?
Seis experientes CIOs contam por que apostaram em voz sobre IP e como fizeram para contornar os problemas de instabilidade e preço alto
por VIRGINIA FLORENZANOIlustração Marcelo Gomes
TRAFEGAR VOZ PELOS CABOS DA REDE DE COMPUTADORES, aproveitando toda a infra-estrutura já instalada na empresa, foi durante muito tempo o sonho de quase todo CIO. Hoje, essa tecnologia é uma realidade e atende pelo nome de voz sobre IP, ou simplesmente VoIP. Mas será que ela já se provou um instrumento para reduzir os custos com telecomunicações? Os primeiros projetos de VoIP começaram a ser implementados há três anos, mas, desde então, as maiores queixas giram em torno da má qualidade das linhas disponíveis. Alguns serviços não tinham a consistência necessária para agradar ao usuário, principalmente no quesito disponibilidade. Será que o jogo virou? Veja a opinião dos principais executivos de TI da GVT, Kimberly-Clark, Biossintética Farmacêutica, Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Solutia e Marítima Seguros.
Ofer Henkin CIO da GVTVale a pena apostar em VoIP, sem dúvida. É a tendência do mercado e uma das soluções mais interessantes em telecomunicações. O VoIP representa uma oportunidade de oferecer benefícios já disponíveis no mercado corporativo também para as pequenas e médias empresas e para o mercado residencial, o que por si só já representa uma inovação. A solução está presente na rotina da GVT desde o início da empresa, em 2000. Nossa rede interna já nasceu em cima de uma plataforma Next Generation Network (NGN), que permite, entre outras aplicações, a incorporação de novos produtos e serviços baseados na tecnologia de voz sobre IP. Hoje, estamos em fase de conclusão dos primeiros projetos, que devem ser lançados comercialmente no segundo semestre deste ano para o público. Outro ponto importante é você poder contar com pessoas preparadas: nunca duvidamos da capacidade de nossa rede e de nossas equipes de TI em desenvolver produtos e serviços baseados em VoIP. Essa tecnologia permitirá minimizar a barreira da longa distância, transformando o Brasil numa única área local, e, na seqüência, o mundo em uma verdadeira aldeia global.
Paulo Biamino Gerente de informática da Kimberly-ClarkTivemos uma primeira experiência com VoIP em 2000, quando a Kimberly-Clark unificou sua rede nos países em que está presente na América Latina. Na época a solução pedia muito tempo de manutenção e administração. Havia ainda a guerra de tarifas por parte das operadoras, o que tornava a solução muito cara, e o próprio momento da empresa, pois deixaríamos de alocar recursos para outros projetos importantes se encarássemos uma implementação de VoIP naquele momento. Nosso ERP, por exemplo, estava sendo implementado com alta prioridade e todo o processamento era feito nos Estados Unidos, o que demandava muita banda e recursos. Desse modo, decidimos engavetar o projeto em abril de 2002, mas em maio deste ano começamos a ressuscitá-lo. O primeiro passo foi redefinir as especificações da nossa rede de modo a deixá-la preparada para o VoIP. Neste momento estamos levantando o perfil de tráfego de voz entre as diversas localidades em que a Kimberly está presente e terminando de avaliar toda a rede. Acreditamos que o projeto vai possibilitar uma melhor performance para voz e dados, assim como melhores condições de gerenciamento da rede. Feito isso, teremos um ambiente propício para o VoIP. Nossa estimativa de economia com telecomunicações, após a implementação do projeto, é de pelo menos 25%.
Ricardo Fonseca Silva Líder executivo de informática da Biossintética FarmacêuticaAté março deste ano nossa rede de telefonia não estava preparada para o VoIP. Desde então, promovemos uma atualização do frame relay com a substituição do antigo PABX analógico pelo digital, que possui capacidade de expansão suficiente para a colocação de equipamentos, como roteadores específicos para voz e placas IP. O próximo passo é o VoIP, projeto que deve começar no segundo semestre do ano. A voz é muito mais sensível aos atrasos gerados por problemas na rede do que os dados. Hoje a tecnologia de voz sobre IP já está madura e os problemas de latência que víamos no início, como o popular atraso dos pacotes de voz e os ‘engasgos’, já foram superados. Os fornecedores amadureceram e há informação suficiente para que ninguém se iluda com grandes promessas, como aconteceu no início. Cabe a cada empresa saber se é o seu momento de entrar na tecnologia. Pretendemos interligar nossa matriz à fábrica em Ribeirão Preto (SP) e a quatro escritórios regionais de vendas. A previsão de ganhos com o novo projeto é de 30 a 40 mil reais por mês em custos de ligações.
José Eirado Neto Diretor de tecnologia da BM&FIniciamos um projeto de VoIP em julho do ano passado, trabalhamos ao longo de 2003 e conseguimos colocá-lo em operação em maio de 2004. Em linhas gerais, o projeto surgiu da necessidade de interligar o escritório de representação da BM&F em Nova York à sede, que fica em São Paulo. Descoberta a necessidade, fomos então para o mercado e constatamos que a tecnologia de voz sobre IP já é estável e economicamente viável, ao contrário da situação desfavorável do passado. Então, montamos o projeto e interligamos os escritórios. Como a tecnologia é altamente escalável, passamos a conectar as corretoras a esse link também. Hoje já são 12 as corretoras interessadas, sendo que cinco delas já estão operando conosco. Para fazer a conexão, as corretoras contratam um link no Brasil e se ligam à rede em São Paulo. E, em Nova York, o escritório da BM&F contrata um link local, dele até a operadora, para se conectar ao Brasil. Tem funcionado muito bem. Ainda não fizemos os cálculos na ponta do lápis para conhecer a economia com telecomunicações que o novo projeto trará, mas o VoIP se mostrou atrativo para a nossa realidade.
Marcelo Rebouças Diretor de tecnologia para a América Latina e Ásia da SolutiaO VoIP é uma tecnologia aberta e flexível que, para uma empresa que manteve sua rede WAN ou LAN atualizada, dá alternativas ilimitadas em termos de telecomunicações. O VoIP entrou na vida da Solutia em virtude de uma fábrica que a empresa adquiriu em 1999, que ficava na cidade de Suzano (SP) e com a qual também precisaríamos nos comunicar. Havia a possibilidade de implementar um PABX, mas o custo do investimento, que poderia chegar a 60 mil dólares, não era interessante. Escolher o VoIP foi uma decisão muito mais de negócios do que de tecnologia em si e optamos por correr os riscos de implementação de uma tecnologia até então pouco utilizada, numa área vital para a empresa. Contamos com a parceria da PL Tecnologia e migramos. Deu certo. Os 18 escritórios comerciais que estão sob a minha responsabilidade, distribuídos entre América Latina e Ásia, além de cerca de 40 home offices, têm redes VPN IP distribuindo chamadas de voz para todos os funcionários, onde estiverem. Mas ainda não utilizamos toda a potencialidade do VoIP, por decisão interna da alta gestão. As discussões sobre quem tarifa o que nas chamadas internacionais por VoIP ainda não foram concluídas com as operadoras.
Milton Bellizia Filho Diretor executivo de TI da Marítima SegurosO negócio de seguros é feito com papel e telefone. Portanto, temos uma necessidade de banda muito grande. Para ter uma idéia, nossos 17 mil corretores ativos fazem 250 mil ligações e recebem uma média de 192 mil a cada mês. É um volume muito significativo. Então, para cortar custos com telefonia, começamos a investir num projeto de voz sobre IP em parceria com a Siemens. Adquirimos equipamentos da linha Siemens High Path e levamos a tecnologia a dez de nossas 80 filiais no país. A solução ainda não está 100% implementada, mas nos pontos em que ela está ativa, os gastos já caíram 35%. Isso porque conseguimos, por meio de análise de relatórios, melhorar o gerenciamento de toda a operação para saber onde é possível economizar. Nossa estratégia, então, se tornou clara: a implementação é feita gradualmente nos pontos, para que a própria economia seja usada como investimento para as outras filiais. Nossa intenção é que as novas tecnologias gerem caixa para o financiamento de outras inovações, criando um círculo virtuoso dentro da empresa. Até agora, fomos bem-sucedidos. No total, o investimento em VoIP foi de 3,5 milhões de reais.
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